A produção científica mundial tem crescido exponencialmente nos últimos anos, porém, ainda hoje, a elaboração do conhecimento científico pode ser identificada como uma atividade masculina, apesar da maior inserção do sexo feminino na ciência. Além disso, os estudos sobre gênero no sistema agroindustrial do café são recentes e o que se busca é a visibilidade e a valorização da mulher, incentivando o aumento da participação ativa da mulher no mercado cafeeiro, desvelando e discutindo desigualdades de gênero, porventura verificadas. Nesse contexto, buscou-se com este trabalho conhecer quem são as mulheres pesquisadoras do café no sul de Minas Gerais e compreender como são as relações de trabalho e de gênero que elas vivenciam. Foram realizadas 13 entrevistas semiestruturadas com mulheres pesquisadoras de café em organizações, instituições e centros de pesquisa da região. A partir do conteúdo gerado pelas entrevistas que foram inspiradas na temática de narrativas, a análise dos dados foi realizada por análise de conteúdo temática, pela qual se estabeleceram categorias, que foram organizadas na apresentação dos resultados com seus temas centrais e subtemas. Os resultados mostraram que há diferenças na trajetória e no trabalho exercido pelas mulheres que possuem mais tempo na área de pesquisa e são concursadas em instituições públicas de pesquisa em comparação com as pesquisadoras mais novas e bolsistas, sendo que as primeiras abriram portas e, de certa forma, facilitaram para as mais novas adentrarem na pesquisa do café. A mulher possui dupla jornada de trabalho, ou seja, se divide na esfera pública (trabalho fora de casa) e privada (atividades inerentes à casa, como o trabalho doméstico, cuidados com os filhos), o que ocasiona em uma difícil conciliação, pois o trabalho da pesquisadora envolve dedicação e o afastamento diário dos filhos, o que não foi muito citado pelas pesquisadoras juniores, porque elas ainda não são casadas e não possuem filhos. A ciência é eminentemente masculina, sendo que a palavra do homem no campo muitas vezes possui mais valor do que a palavra de uma mulher. A diferença de gênero é resultante de um processo histórico, cultural e social e que ainda ocorre na ciência, especialmente na esfera agrária. Quanto às perspectivas sobre a atuação da mulher na pesquisa de café, as entrevistadas se mostraram confiantes e otimistas para que o número de mulheres, nessa área predominantemente masculina, aumente e seus trabalhos sejam visíveis perante a sociedade. É importante a participação de mulheres em movimentos sociais a fim de se empoderarem e buscarem visibilidade para as questões de gênero, contribuindo para fortalecer e ampliar a atuação de mulheres no café como, por exemplo, é o trabalho realizado pela Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA). Tais resultados evidenciam quem são as mulheres pesquisadoras de café, suas trajetórias de vida, as relações de trabalho e de gênero que vivenciam e as suas perspectivas sobre o trabalho exercido. A partir desses resultados, sugere-se, como uma nova agenda de pesquisa, a realização de investigações voltadas a outras instituições públicas de pesquisa, assim como em outras regiões. Além disso, sugerem-se investigações que incluam a realização de entrevistas com homens, para se comparar as suas percepções com as das mulheres sobre as mesmas questões.
The world scientific production has grown exponentially in recent years, but even today, the elaboration of scientific knowledge can be identified as a masculine activity, despite the greater insertion of women in science. In addition, studies on gender in the coffee agroindustrial system are recent and what is sought is the visibility and valorization of women, encouraging the increase of the active participation of women in the coffee market, revealing and discussing gender inequalities verified. In this context, the purpose of this work was to know who are women coffee researchers in the south of Minas Gerais and to understand how the gender relations and work they experience. Were realized 13 semi- structured interviews with women coffee researchers in organizations, institutions and research centers in the region. Based on the content generated by the interviews, which were inspired by the narrative thematic, the analysis of the data was performed by analysis of thematic content, by which categories were established, which were organized in the presentation of the results with their central themes and subtopics. The results showed that there are differences in the trajectory and in the work performed by the women who have more time in the research area and are in public research institutions compared to the younger researchers and scholarship holders, being that the first opened doors and facilitated for the younger ones to enter the coffee research. The woman has a double working day, in other words, she is divided into the public sphere (work outside the home) and private (activities inherent to the home, such as domestic work, childcare), which leads to difficult reconciliation, since, because the work of the researcher involves dedication and the daily separation of the children, which was not mentioned much by the junior researchers, because they aren’t yet married and don’t have children, not having this extra responsibility. Science is eminently masculine, and the man’s word in the field is often worth more than the word of a woman. This gender difference is the result of a historical, cultural and social process that still occurs in science, especially in the agrarian sphere. Regarding the perspectives on the women’s performance in coffee research, the interviewees were confident and optimistic that the number of women in this predominant male area increased and their work was visible to society. The participation of women in social movements is important in order to empower and seek gender visibility in this area by helping to strengthen and expand the role of women in coffee, such as the work of the International Women’s Coffee Aliance (IWCA). These results show who are women coffee researchers, their life trajectories, the gender relations and work they experience and their perspectives on the work of women in the area. With these results, it is suggested, as a new research agenda, the carrying out of works directed to other public research institutions, as well as in other regions, in order to deepen in the questions related to the gender relations and work evidenced by the researchers. Furthermore investigations are suggested that include interviews with men, to compare their perceptions with that of women on the same issues.