O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café. A cultura chegou ao país ainda no período colonial, em meados do século XVII, e durante boa parte dos séculos XIX e XX foi o principal produto da pauta de exportação. O Brasil produz cafés de diferentes qualidades. Em estado grão cru, o produto é comercializado após ter sido beneficiado nas propriedades rurais ou cooperativas de cafeicultores. Cada lote de café beneficiado recebe uma respectiva descrição comercial, fornecida segundo a classificação oficial brasileira (COB). Este instrumento coordena o mercado interno do produto, servindo de orientação para a precificação nas transações e, consequentemente, para a remuneração de cafeicultores e cooperativas. O problema é que a classificação baseia-se fundamentalmente no indicador tipo, que é um quantificador dos defeitos físicos encontrados nas amostras. Desse modo, a real qualidade dos grãos é desprivilegiada, gerando incerteza nas transações, oportunismo e problemas de seleção adversa, além de dificultar ao produtor auferir renda pela qualidade. A pesquisa estudou a tríplice inter-relação existente entre o sistema de classificação, os atributos de qualidade requeridos pela indústria e a remuneração do produto ao cafeicultor. Treze agentes da cadeia produtiva compuseram o objeto de estudo: cinco cooperativas localizadas nas principais regiões cafeeiras do país; cinco torrefadoras a elas associadas; e três empresas intermediárias (traders) localizadas na região de Hamburgo, na Alemanha. Os casos estudados mostraram que o problema é parcialmente contornado pelas cooperativas por meio do uso de sistemas classificatórios alternativos. Além de possibilitarem uma remuneração mais justa ao cafeicultor, esses sistemas evidenciam melhor as qualidades dos lotes a seus clientes (agentes intermediários ou indústria). A reestruturação do sistema classificatório, portanto, revela-se potencialmente capaz de reorientar o sistema de pagamento e trazer benefício econômico ao setor produtivo. Ao final do estudo, apresenta-se uma proposta de sistema classificatório para o café beneficiado, construída a partir do tratamento dos dados empíricos.
Brazil is the largest world coffee producer and exporter. The crop arrived in the country in the colonial period, in the mid-seventeenth century, and during much of the nineteenth and twentieth centuries was the Brazilian main export product. Brazil produces coffees of different qualities. In raw grain status, the product is traded after being benefited in the farms or cooperatives of farmers. Each lot of green coffee receives a respective commercial description according to the Brazilian official classification. This instrument coordinates the product domestic market serving as orientation for the pricing on transactions and hence for the remuneration of farmers and cooperatives. The problem is that the classification is based mainly on the type indicator, which is a quantifier of physical defects observed in the samples. Thus, the real quality of the beans is underprivileged, generating uncertainty in transactions, opportunism, and problems of adverse selection, also hindering the grower to earn income by quality. The research studied the triple inter-relationship between the classification system, the quality attributes required by industry and the payment to the grower. Thirteen stakeholders of the production chain comprised the object of study: five cooperatives located in the main Brazilian coffee regions, five roasters associated with them, and three intermediary companies (traders) located in the region of Hamburg, Germany. The studied cases showed that the problem is partially solved by the cooperatives through the use of alternative classification systems. These systems provide fairer remuneration to the grower and better highlight the qualities of the lots to their customers (intermediaries or industry). The restructuring of the classification system, therefore, appears to be potentially able to redirect the payment system and to bring economic benefit to the productive sector. In the results the research presents a proposal of classification system for green coffee, built from the empirical data.