Resumo:
O estado de Rondônia tem despontado como um dos principais produtores de café do país, ocupando o segundo lugar na produção do café Conilon, com previsão de colher entre 1,9 e 2,1 milhões de sacas beneficiadas na safra 2003/2004, de acordo com estimativa da Conab. Não obstante essa expressiva produção a tecnologia empregada pelo produtor é baixa, prejudicando a qualidade do produto, e, consequentemente, dificultando a obtenção de preços competitivos. Embora a criação da Câmara Setorial do Café, em novembro de 2000, tenha propiciado a inserção do "Café de Rondônia" no "Cafés do Brasil", o processo de construção da marca ainda não se materializou, devido principalmente à falta de padrões de qualidade e do estabelecimento das suas características emblemáticas, de forma a ser percebido como um produto de qualidade pelo mercado
consumidor. Partindo do princípio de que a construção do valor de uma marca resulta dos esforços de pesquisa, inovação, comunicação e outros que, ao longo do tempo vão sendo agregados ao processo de sua consolidação, este trabalho, utilizando o método do estudo de caso e de levantamentos de experiências, procura analisar, sob a perspectiva dos atores da cadeia produtiva do café em Rondônia, as condições a serem satisfeitas para que a marca "Café de Rondônia" possa ser viabilizada, bem como os desafios que se apresentam, principalmente para a pesquisa e transferência de tecnologia. Os dados foram coletados por meio de entrevistas estruturadas (com 122 produtores das microrregiões de Ariquemes, Ji-Paraná e Cacoal) e não estruturadas (com pesquisadores, cerealistas e técnicos da área). Os resultados mostram a necessidade de se estabelecer, por parte dos órgãos ligados à cafeicultura no estado, um conjunto de ações que permitam a apropriação, por
parte dos produtores, de conhecimentos e condições que lhes permitam melhorar seu processo produtivo, principalmente no quesito qualidade do produto, condição essencial para que a marca "Café de Rondônia" possa se consolidar, além da necessidade de se definir de forma mais clara a cadeia produtiva do café no estado, visando estabelecer relacionamentos adequados entre seus diversos atores, fator que ficou evidenciado no trabalho realizado. Dentre os fatores que interferem na qualidade e produtividade do café destacam-se: colheita fora de época, com alto índice de grãos colhidos verdes, secagem feita de forma inadequada (65% dos produtores entrevistados utilizam terreiros de chão batido para a secagem do produto), incidência de pragas e doenças, principalmente a broca-do-café e permanência do café na "roça" por mais tempo do que o
recomendado, fazendo com que o café produzido, na sua maioria, fique fora do padrão de qualidade estabelecido pela Câmara Setorial, que é a de um café tipo 6, peneira 14 e acima, dificultando, assim, que o produto tenha competitividade em termos de participação de mercado e preços atrativos. Dentre os principais problemas apontados pelos produtores como limitantes da atividade cafeeira sobressaem-se a falta de recursos financeiros, falta de assistência técnica (71,3 % dos entrevistados afirmaram não ter recebido, no ano de 2002, nenhuma visita de técnicos da extensão rural na sua propriedade) e falta de mão-de-obra, esta última decorrente do baixo preço pago pelo café na última safra. Mesmo diante de tais problemas, existe uma atitude positiva por parte dos produtores em relação ao futuro da atividade, já que cerca de 85% dos entrevistados disseram
pretender melhorar a tecnologia, aumentar a produção e melhorar a qualidade do produto para obtenção de melhores preços. Desta forma, verifica-se que a consolidação da marca "Café de Rondônia" depende da ação integrada de instituições governamentais, cerealistas e produtores, para, num primeiro momento, obter a qualidade desejada para que o produto possa ser competitivo, e isso requer um processo estruturado e bem coordenado; num segundo momento definir mercados para o café produzido no estado, inclusive externo, como propõe um empresário da área, que vê o mercado asiático, principalmente a China, como um potencial comprador e consumidor do café de Rondônia, pois, para ele, o café produzido em Rondônia geralmente é bebida dura e teoricamente possui as mesmas possibilidades de alcançar boa qualidade como qualquer café do
Brasil ou do mundo, desde que se adote os procedimentos corretos de colheita, pós-colheita e preparo.