Resumo:
Popularizado com o nome de "café adensado", o modelo tecnológico concebido para modernização da cafeicultura paranaense possui entre suas premissas a diversificação das unidades produtivas como estratégia adequada para a redução de riscos climáticos, por intermédio da localização das lavouras em áreas de microclima apropriado, e econômicos. Deste modo, com o novo modelo o café surge freqüentemente combinado com outras atividades, constituindo sistemas de produção diversificados nos quais o papel desempenhado pela atividade cafeeira altera-se segundo as diferentes combinações. As Redes de Referências para a Agricultura Familiar, dispositivo de pesquisa e desenvolvimento criado para acompanhamento e intervenção em alguns dos principais sistemas de produção familiares do estado do Paraná, tem trabalhado na região norte paranaense com sistemas produtivos nos quais a presença do café espelha algumas das diferentes situações observadas. O presente trabalho objetiva, por meio da apresentação de três casos originários de propriedades acompanhadas pelas Redes, discutir aspectos relativos a participação da atividade cafeeira em sistemas de produção familiares. Na primeira situação, apresenta-se uma unidade produtiva com 3,0 eqüivalentes-homens de mão-de-obra familiar na qual o café constitui-se na principal atividade econômica com 71% de participação na receita total (safras 1998/99 e 1999/00) e ocupação de 15% da superfície agrícola útil (SAU), caracterizando-se também pela presença de cafeicultores tradicionais que nunca abandonaram a atividade, aderindo de imediato ao novo modelo tecnológico. O segundo caso descrito, retrata a condição de uma propriedade especializada na produção de grãos, com 2,5 eqüivalentes-homens de mão-de-obra familiar disponível, na qual o café surge
como alternativa de diversificação, sobretudo quando da implantação do programa estadual de revitalização cafeeira. Aqui o café contribui em média com 17% da receita total e ocupa 8% da SAU. O último caso apresentado refere-se a uma propriedade de grãos já diversificada, com disponibilidade de 2,7 eqüivalentes-homens de mão-de-obra familiar, onde o café enquadra-se como alternativa complementar de diversificação. Nesta condição, ocupa 3% da SAU e ainda não contribui na formação da receita total. As perspectivas futuras apuradas indicam uma tendência de aceleração da diversificação na primeira situação com continuidade da renovação das lavouras cafeeiras. No segundo caso observa-se a tendência de manutenção da área cafeeira atual com redução do ritmo de implantação de novas áreas. Finalmente, no terceiro caso verifica-se a perspectiva de paralisar-se a implantação de novas áreas de café. Como conclusões de ordem geral, apresentam-se a característica de auto-financiamento e implantação parcelada de pequenas áreas observada nas três situações estudadas. Destaca-se também a permanência do café como importante alternativa aos sistemas de produção regionais e as dificuldades surgidas nos processos de diversificação de propriedades especializadas em decorrência de curvas de aprendizagem e do período de maturação de investimentos. Apontam-se ainda a necessidade de políticas públicas específicas para redução de riscos e diminuição de prejuízos no processo de diversificação e/ou renovação e ampliação da cafeicultura.
Descrição:
Trabalho apresentado no Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil (3. : 2003 : Porto Seguro, BA). Resumos. Brasília, D.F. : Embrapa Café, 2003.