Resumo:
O controle de Aedes aegypti tem sido feito por meio de inseticidas químicos sintéticos. No entanto, tem-se registrado vários casos de seleção de populações resistentes. Desta forma, os produtos botânicos têm surgido como alternativa promissora para o manejo desse inseto vetor, visto que apresentam interações multifacetadas com os seus sítios de ação e baixa contaminação ambiental. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a toxicidade de extratos de café verde e torrado de qualidade inferior para larvas de A. aegypti. Para a extração dos extratos de café foi utilizado a técnica de refluxo sólidolíquido com metanol como solvente e a caracterização dos compostos presentes foi feita por meio de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC). Avaliaram-se os efeitos do extrato de café verde com DMSO® (CVD), extrato de café verde com Tween 80® (CVT), extrato de café torrado com DMSO® (CTD) e extrato de café torrado com Tween 80® (CTT) sobre A. aegypti. Esses tratamentos foram testados em várias concentrações (4; 2; 1,6; 1,2; 1; 0,45; 0,25 e 0,12 mg/mL). Os tratamentos controles foram água sem cloro, DMSO a 1% e Tween 80 a 1%. O bioensaio, em delineamento inteiramente casualizado, consistiu de 15 larvas de terceiro instar de A. aegypti para cada tratamento, obtidas da criação de laboratório, com quatro repetições, sendo cada uma representada por uma larva. A mortalidade foi avaliada às 24, 48 e 72 horas após a adição dos extratos para se estimar a dose letal (DL) necessária para matar 50, 90 e 99% das larvas. Também foi avaliado o efeito do composto majoritário (ácido cafeico) por meio do mesmo protocolo usado para os extratos. Os compostos majoritários em ordem de maior concentração encontrado nos extratos foram o ácido cafeico, ácido clorogênico e a catequina (somente nos extratos de café torrado). Às 72 horas, CTT (4 mg/mL) causou 99,2% de mortalidade, seguido por 83,3% para CVD e 55% para CVT. O extrato CTD (2 mg/mL) causou 73,3% de mortalidade. A DL50 estimada para CTT foi de 0,33 ± 0,22 mg/mL; seguida por 1,43 ± 0,05 para CTD; 2,53 ± 0,1 para CVD e 2,57 ± 0,25 para CVT. O ácido cafeico isolado provocou baixa mortalidade à concentração de 6,42 mg/mL. Concluímos que os extratos de café são tóxicos para larvas de A. aegypti, enquanto o ácido cafeico isolado apresenta baixa mortalidade, o que sugere a ocorrência de sinergia com outros compostos dos extratos. Pesquisas adicionais são necessárias para compreender melhor a ação do composto no ambiente e sua sinergia com outros componentes dos extratos de café.