A cafeína é considerada a droga psicoativa mais utilizada no mundo, apresentando diversos efeitos centrais e periféricos. No Sistema Nervoso Central, o principal efeito ocorre via bloqueio de receptores para adenosina A 1 e A 2a , que mediam a indução do sono de ondas lentas. O bloqueio destes receptores por alimentos ou bebidas que contenha cafeína acarreta em comportamentos como aumento do estado de alerta, ânimo e atividade locomotora. Na memória, os efeitos da cafeína são muito controversos, visto a diversidade de protocolos experimentais e o fato dela não ter o mesmo efeito para todas as fases do processamento da memória – aquisição, consolidação e evocação. Assim, tendo como sujeito o sagui (Callitrhix jacchus), nosso objetivo foi avaliar os efeitos da cafeína na memória deste primata através do paradigma de preferência condicionada pelo lugar, onde o animal escolhe um contexto devido à presença de comida. Avaliamos também a atividade locomotora. Para o experimento foram utilizados 20 animais (10 machos e 10 fêmeas) com idade entre 3 e 9 anos, oriundos do Núcleo de Primatologia da UFRN (IBAMA, No1/24/92/0039-0). O experimento contou com cinco fases: dois dias de pré-exposição ao aparato. Treinos, onde os saguis foram condicionados a discriminar um contexto reforçado (CR) de um não-reforçado (CNR) durante 8 dias. Em seguida houve administração oral da cafeína ou placebo, ambos a 10mg/kg, por oito dias consecutivos (± 1,5 horas antes do início do sono), com distribuição dos animais em grupos: placebo (recebendo a substância placebo) e repetido (ingerindo cafeína). Após isso, foi realizado o retreino ao aparato, seguido da administração do placebo (surgindo os grupos abstinência e placebo) ou cafeína aos novos grupos repetido e agudo. Por último, o dia do teste, sem o reforço, afim de avaliar o sujeito quanto à aprendizagem ao CR. As sessões no aparato duravam 8 min, e iniciavam às 6:15h para a pré-exposição, treinos e teste. O retreino começou às 15:15h para que a consolidação da tarefa fosse dependente de sono. Os dados comportamentais foram constituídos pelo tempo gasto (em %), frequência de contatos e latência (em segundos) para o primeiro contato no CR e CNR. Na locomoção foram registrados a atividade geral e locomoção em contato com o aparato e fora dele (em quadrantes). Adicionalmente avaliamos possíveis diferenças entre machos e fêmeas na tarefa. Os resultados mostraram que na fase de pré-exposição os animais se habituaram ao aparato e não apresentaram diferença a quaisquer contextos. Nos treinos eles foram capazes de aprenderem a tarefa de condicionamento, independente do sexo. Para o retreino, os 2 grupos exibiram maior interação no contexto reforçado em relação ao não-reforçado. Todavia, na atividade locomotora, animais do grupo repetido se locomoveram de forma semelhante tanto em contato com o aparato e fora dele, enquanto que animais do grupo placebo se locomoveram mais em contato com o aparato. Na fase de teste os saguis que ingeriram cafeína apresentaram maior atividade locomotora em relação ao placebo, corroborando com trabalhos que demonstram aumento na locomoção. Quanto à aprendizagem, os grupos repetido e abstinência tiveram pior desempenho desta tarefa específica se comparado aos animais placebo e agudo. Isso sugere que a administração prolongada da cafeína prejudicou a memória por afetar o sono, que é, em grande parte, responsável pelos processos consolidativos.
Caffeine is considered the most consumed psychostimulant in the world, presenting several central and peripheral effects. In the Central Nervous System the major effect occur by its antagonistic activity at the A 1 and A 2a subtypes of the adenosine receptors. These receptors are responsible for the slow-wave sleep induction, and their binding, caused by the consumption of foods and beverages that contain caffeine, cause behaviors like increase of alertness, mood and locomotion. The effects of caffeine on memory are still discussed because of the diversity of experimental protocols. Also, it does not have the same effects on all stages of the processing of memory - acquisition, consolidation and recall. Thus, using the marmoset (Callitrhix jacchus) as subject, we aim to evaluate the effects of caffeine on the memory of this primate through the conditioned place preference paradigm, where the animal selects a context by presence of food. This cognitive task consists of five phases. The first phase was two sessions of pre-exposure, in which they were evaluated for preference for any compartment of the apparatus. Then, we proceeded the training, conditioning the animals to the food-present context for 8 days. Then, there was administration of caffeine or placebo (10mg/kg) for 8 consecutive days, during the pre-sleep phase, where the 20 animals were distributed in two groups: placebo and repeated. The forth phase was one day of retraining, a re-exposure of the apparatus to the marmosets followed by the administration of caffeine (for the repeated group and a new group called abstinence) or placebo (for placebo and abstinence groups). Finally, was the test where we evaluated if the subjects learned where the food was present. Moreover, in this work we evaluate the existence of differences between females and males on the task, and the locomotor activity for the experimental groups. The results showed that in the pre-exposure phase the animals were habituated on the apparatus and did not present differences for any contexts. In training, they were able to learn the conditioning task, independent of gender. For the retraining, the two groups exhibited more interactions in rewarded context than that in non-rewarded context. Nevertheless, in the locomotor activity, the repeated group moved similarly in contact with the apparatus and outside of it. In the other hand, the animals of the placebo group moved more when in contact with the apparatus. In the test phase, the marmosets under influence of caffeine presented an increase in the locomotor activity when compared with the placebo group, corroborating works that show this increase in locomotion. In the learning evaluation, the continuous and abstinence groups had a bad performance in the task in relation to the placebo and acute groups. This suggests that the prolonged administration of caffeine disrupts the memories because it affected sleep, which is largely responsible offline processing of memories.