Ao presenciar o crescimento das desigualdades sociais no espaço urbano brasileiro, a informalidade tem sido uma alternativa encontrada pelas famílias para manterem a sua reprodução física e social. A informalidade, inicialmente, caracterizada como atividades precárias; hoje se apresenta com novas tendências, visto que adquiriu diferentes finalidades na vida das famílias. Presente de forma significativa, nos pequenos e grandes centros urbanos, ela constrói, no seu cotidiano, relações sociais e espaciais que revelam a complexidade do seu universo. É nesta perspectiva, que a presente pesquisa teve como objetivo geral, compreender os territórios e territorialidades construídos pelas famílias inseridas no comércio informal de Viçosa (MG). Para tanto, a pesquisa caracterizou-se como um estudo de cunho quanti-qualitativo e de natureza descritivo-analítica, utilizando-se como métodos de coleta de dados, o Survey, a entrevista em profundidade e a história de vida. O estudo foi realizado na cidade de Viçosa (MG), sendo a amostra composta por 208 comerciantes. Para a coleta de dados foram combinadas diferentes técnicas: observação não-participante, análise de documentos e registros da Prefeitura Municipal, questionário e entrevistas semi-estruturadas, e notas de campo. A análise dos dados baseou-se em dois procedimentos: a utilização do software SPSS (Statistical Package for Social Scienses); e no agrupamento e análise das informações a partir de categorias analíticas retiradas do referencial teórico. Os resultados apontaram que o perfil dos comerciantes era diversificado, com destaque para a presença de homens (66,8%), casados (70,7%), naturais de Viçosa e microrregião (87,7%), com idade média de 44,6 anos, que possuíam baixa escolaridade, e ainda, que vendiam diferentes tipos de mercadorias. Além disso, os resultados evidenciaram que como reflexo da tendência nacional, o comércio informal de Viçosa (MG) assumiu diferentes finalidades na vida das famílias envolvidas, visto que 29,3% a viram como uma alternativa para sair do desemprego, 27,7% uma atividade para complementar a renda familiar; 23,2% a perceberam como uma boa perspectiva de trabalho; 6,6% como uma forma de entretenimento; 9,8% uma possibilidade de manter a tradição familiar; e 3,4% como a possibilidade de desenvolver um trabalho por conta própria. Além disso, mesmo atuando em locais específicos (Shopping Chequer e Feiras Livre e de Artesanato) e temporários (ocupação das ruas, calçadas e praças pelos ambulantes), os comerciantes informais teciam diferentes redes e significados nestes espaços demarcando outras espacialidades, os territórios da informalidade. Assim, foi possível verificar, a existência de três territórios, que se configuravam como o espelho das relações estabelecidas no cotidiano da atividade informal: o território precário, visto como única opção de trabalho, onde se destacava a ajuda dos membros familiares; o território em ascensão, identificado como uma opção de vida, onde se tinha redes sociais mais extensas, não limitadas aos membros familiares; e o território de resistência, tido como uma possibilidade do trabalho familiar, onde se destacava as relações simbólicas e representações sociais dos seus trabalhadores. Concluiu-se, portanto, que além de sua importância enquanto uma estratégia que permite a sobrevivência física do grupo, o comércio informal tornou-se, também, uma atividade que possibilita às famílias alcançarem outros objetivos de vida. E ainda, a família mostrou-se em qualquer um desses territórios, como a principal referência para a manutenção dessa atividade. Assim, na base destes territórios, estava a lógica de organização dos grupos familiares, marcada por uma identidade que estava diluída entre os espaços do trabalho e da casa.
On witnessing the growth of social inequalities in urban Brazil, informality has been found an alternative for families to maintain their physical and social reproduction. This informality, initially characterized as precarious activities, now presents with new trends, since it has acquired different purposes in the lives of families. Present in a significant way in small and large urban centers, it builds, social and spatial relations in their daily lives that reveal the complexity of their universe. In this perspective, this research aimed to understand the territories and territoriality built by the families included in informal trade of Viçosa (MG). To this end, the survey is characterized as a study of quantitative, qualitative and descriptive- analytical nature, using methods such as data collection, a survey, in-depth interviews and life stories. The study was conducted in Viçosa (MG), and the sample was comprised of 208 traders. To collect the data, different techniques were combined: non-participant observation, document analysis and records of the City, questionnaire and semi-structured interviews, and field notes. Data analysis was based on two procedures: the use of SPSS (Statistical Package for Social Sciences) and the collation and analysis of information from the analytical categories taken from theoretical references. The results showed that the profile of the traders was diverse, especially in the presence of men (66.8%), married (70.7%), locals and from the Viçosa microregion (87.7%), mean age 44. 6, who had little education, and also sold different types of goods. In addition, the results showed that, as a reflection of the national trend, the informal trade of Viçosa (MG) took different purposes in the lives of families involved, since 29.3% saw it as an alternative to exit unemployment, 27.7% as an activity to raise the family income, 23.2% saw it as a good work opportunity, 6.6% as a form of entertainment, a 9.8% chance of keeping the family tradition, and 3.4% as possibility of developing self-employment. Moreover, even acting in specific (Chequer Shopping and Free Trade and Crafts) and temporary locations (occupation of the streets, sidewalks and squares by street vendors), informal traders created different meanings in these networks and other spatialities, demarcating the territories of informality. Thus, it was possible to verify the existence of three territories, which appeared as the mirror for the relations established in everyday informal sector: the precarious territory, seen as the only option to work, where the highlight was the help from family members; the rising territory, identified as a lifestyle choice, which had more extensive social networks, not limited to family members; and the territory of resistance, seen as a possibility of family work, which highlighted the social relations and symbolic representations of their workers. We conclude, therefore, that in addition to its importance as a strategy to support the physical survival of the group, informal trade has become also an activity that allows families to achieve other life goals. And yet the familiar structure, in any of these territories, was demonstrated as the main reference for the maintenance of this activity. Thus, on the basis of these territories was the logic of organization of family groups, marked by an identity that was diluted between spaces of work and home.